A menina do ônibus

Estava perdido na minha nova cidade tentando encontrar o ponto de ônibus que me levaria para faculdade:

– Nossa! Será que é nessa rua mesmo que eu entro?

Uma menina apareceu do meu lado com uma mochila nas costas, parecia ter uns 18 anos, sorriu e disse:

– Que calor! Espero pegar o ônibus a tempo!

Ela começou a atravessar a rua e fiquei pensando, “será que ela vai no mesmo ônibus”?

– Ei! Espera! Você vai pegar qual ônibus?

Ela gritou do outro lado da rua:

-VOU PEGAR O 702! É LOGO ALÍ NA ESQUINA!

Atravesso a rua bem depressa dizendo:

– Eu também! Estava perdido! Não sabia aonde ir!

– É fácil chegar lá! Vou te ajudar!

 O ônibus chegou ao ponto assim que chegamos, entramos e a menina ainda se manteve ao meu lado.

– Você é novo aqui? Onde você vai descer?

– Sou sim! Vou descer no centro, perto da faculdade de direito!

Ela sorri e disse:

– Eu também! Sabe qual ponto descer?

Respondo um pouco envergonhado:

– Não sei direito… sei que é perto…

Antes que eu pudesse terminar ela responde:

– Eu ajudo você!

Ficamos conversando e ela foi explicando os pontos de referência que eu deveria guardar para descer. Chegamos ao nosso destino e ela se despediu de mim dizendo:

– Sua faculdade é só atravessar a rua! – ela apontou para janela do ônibus e mostrou o prédio grande.

– Muito obrigada!

– Por nada!

Descemos do ônibus e a menina desapareceu no meio da multidão.

Passei o dia na faculdade nova, conheci várias pessoas e na hora de voltar para casa lembrei que não sabia se pegava o ônibus no mesmo ponto. Saí da faculdade e avistei a menina do outro lado da rua, achei muita coincidência e gritei:

-EI! VOCÊ DE NOVO?

Ela sorri e eu atravesso a rua e pergunto novamente:

– Você vai voltar no 702? Estou perdido novamente.

– Vou sim! Então vamos atravessar a rua novamente, o ponto de volta é em frente à faculdade!

Atravessamos a rua e ela olha para mim bem séria disse:

– Não se esqueça disso! É muito perigoso pegar o ponto errado! Você pode descer em algum lugar e nunca mais voltar!

Entramos no ônibus e perguntei:

– Descemos no mesmo ponto que pegamos?

– Sim! Você aprendeu?

– Sim! Muito obrigada! Ainda bem que você estava aqui hoje!

Ela olhou para mim com uma expressão bem triste, abaixou a cabeça e começou a se afastar.

Uma senhora que estava passando no corredor do ônibus esbarrou em mim e deixou suas sacolas cair no chão, me levantei para ajudar e quando procurei a menina ela havia desaparecido.

Cheguei ao meu ponto e não encontrei mais a menina, fui direto para casa lembrando o caminho que peguei mais cedo. Chegando lá tomei um banho e depois fui assistir TV.

Estava passando o Jornal da noite e a repórter começou a falar:

“Neste mês completam 7 anos da terrível história da Naiara. A garota de apenas 18 anos na época, pegou o ônibus 702 e nunca mais voltou para casa. Até hoje os familiares e polícia não sabem o que aconteceu com a adolescente e ela está desaparecida”.

O jornal divulga a foto da Naiara e fico assustado:

– Meu deus é a menina do ônibus!

A repórter volta a falar:

“Acabamos de receber uma nova notícia da polícia sobre o caso. Tudo indica que os restos mortais encontrados neste final de semana na construção do novo Shopping pertencem a Naiara. Finalmente a polícia terá meios de investigar este caso…”

Antes que ela terminasse de falar eu desliguei a TV e fui dormir muito assustado. Eu com certeza tinha visto uma assombração, e ela pode ter salvado a minha vida.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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O casamento do ano

– Maria! Maria! Acorda! Vai se atrasar para o seu casamento!

Acordei assustada com a voz da minha avó me chamando:

– Que horas são?

Acho que nem me escutou, ela olhou para meu chinelo perto da cama e começou a xingar:

– EU JÁ FALEI PARA VOCÊ MARIA! NÃO DEIXA ESSE CHINELO VIRADO PARA BAIXO! ISSO DÁ AZAR! E LOGO HOJE NO DIA DO SEU CASAMENTO… PODE ACONTECER MUITA COISA RUIM!

Levanto-me nervosa da cama, não aguentava mais minha avó com essas superstições:

– Chega vó! Para com essas superstições bobas! Isso não faz acontecer nada! É tudo da sua cabeça!

Ela olha para mim indignada com a minha reação:

– Coisa da minha cabeça? Uma única vez que passei embaixo de uma escada, seu avô olhou para mim e morreu!

– Ele enfartou vó! Isso acontece com quem tem problemas cardíacos! Não é porque a senhora passou embaixo da escada!

Ela olhou para mim novamente, mas dessa vez com muita raiva:

– Você que sabe então! Só depois não diga que eu não avisei!

Eu fico ainda mais nervosa:

– Quer saber? Eu vou provar para senhora que nada disso existe! Vou deixar esse chinelo virado, vou fazer todas as outras superstições e meu casamento vai acontecer do mesmo jeito! Nada de errado vai acontecer hoje! Ninguém vai morrer hoje!

Pego a minha bolsa, tiro o meu guarda – chuva e deixo ele aberto dentro do meu quarto, minha avó sai indignada rezando. Joguei um pequeno espelho no chão, fazendo ele virar mil pedacinhos.

– Não vai acontecer nada de errado!

Depois de me arrumar e vestir o meu lindo vestido de noiva, desço as escadas para encontrar minha família. Antes de ir para o carro passo por deixo da escada que meu irmão usava para trocar uma lâmpada e começo a sorrir,  todos estavam parados me olhando:

– Ah não é possível! Até vocês? Isso aqui é para provar que não acontece nada! É tudo da cabeça de vocês!

Entro no carro pronta para casar, antes que o motorista pegasse o caminho para igreja passo para ele um outro endereço:

– Senhora? Esse não é o caminho da igreja!

– Vou passar na casa do meu noivo antes!

O motorista olha para mim assustado:

– Mas senhora? Você está vestida de noiva!

– Ah não! Vocês têm que parar de acreditar nessas superstições!

– Tem certeza senhora?

– Sim! Vamos logo! Se não vou atrasar para o meu casamento!

O motorista me deixou na porta da casa do meu noivo, saio rindo com a cara dele de assustado e começo a rir mais ainda quando minha sogra e meu sogro se assustam comigo chegando na porta de casa, vejo que meu noivo estava chegando na porta e grito:

– GOSTOU? – Começo a girar para mostrar ele o vestido, quando paro vejo que meus sogros estavam ainda mais chocados com essa minha reação.

– O casamento é aqui agora? – Disse meu noivo se aproximando e rindo – O que está acontecendo?

– Estou provando para todo mundo que superstições não existem, nada acontece, é tudo da nossa cabeça!

Meu noivo começa a rir mais ainda:

– Vou me casar com uma louca mesmo! Uma louca muito bonita! Adorei o vestido

Abraço e dou um beijo no meu noivo:

– Vejo você na igreja! Vamos ver quem chega primeiro?

Ele segura a minha mão e vamos atravessando a rua em direção ao meu carro:

– Você está mesmo muito bonita Maria!

Ele me gira para ver o vestido novamente e antes que eu terminasse de girar, escuto uma buzina… tudo fica preto…

Acordo novamente, completamente tonta e sem saber o que tinha acontecido. Ele ainda segurava a minha mão, acho que estava muito ansioso pois sua mão estava muito molhada e me segurava com tanta força que meus dedos já estavam dormentes. Viro para reclamar, nem sentia meus dedos mais:

– Ei…

Não havia ninguém do meu lado, apenas uma enorme poça de sangue.


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Desaparecidos em Cinasville: O Final

– FICOU LOUCO! -Grito com o empregado.

O outros entraram na casa bem apresados e se assustaram com a cena.

–  Vocês o mataram? Os trolls estão vindo atrás da gente! Temos que sair daqui! – Disse a cientista.

 O investigador Paranormal me puxa pelo braço dizendo:

– Deixa o corpo aí! O labirinto está no mapa! Vamos grupo! Temos que procurar por lá!

Saí correndo ainda meio desnorteado com a equipe, conseguimos fugir antes que os trolls nos alcançassem, chegamos no labirinto ele era muito grande e escuro:

– Liguem todas as luzes que vocês tiverem! Não sei o que podemos encontrar lá dentro!

Todos acenderam as lanternas e começaram a entrar no labirinto:

– É melhor ficarmos todos juntos! Podemos nos perder e nunca mais sair! – disse a garçonete.

– No mapa não mostra aonde ir dentro do labirinto! Estou com um pressentimento ruim! – disse o investigador paranormal, preocupado.

– Então vamos andar até achar esse objeto da igreja! Não vamos desistir e sair daqui sem ele!

– Sim chefe! – disseram todos, menos o investigador paranormal que continuava preocupado.

Começamos a andar pelo labirinto, andamos por horas e não achamos nada naquela escuridão toda.

– Achei que teriam armadilhas! Ou mais trolls guardando esse lugar! – disse um dos empregados.

– Está muito quieto aqui dentro! E porque nenhum dos trolls veio atrás da gente? – disse a garçonete.

Comecei a achar estranho também, realmente estava muito quieto e estávamos andando por horas e não havíamos achado nada. Estava quase pensando em desistir, quando alguém da equipe gritou:

– ACHEI UMA CAIXA! TROPECEI NELA SEM QUERER! E PARECE QUE JÁ ESTÁ DESTRANCADA! – disse a cientista.

– Destrancada? – repete o investigador paranormal novamente com uma voz de preocupado.

Toda a equipe se aproximou para ver, era uma caixa bem pequena e parecia coberta de ouro. Quando a cientista iluminou mais a caixa, havia desenhado nela uma pequena cruz.

– É o símbolo da igreja! Conseguimos! – eu disse maravilhado.

A cientista balança a caixa e diz:

– O objeto está aqui dentro! Escutaram?

Ela continua balançando a caixa.

– Abra ela! Vamos ver o que tem aí dentro! – disse a garçonete

O investigador paranormal grita assustado:

– NÃO ABRA! OS ESPIRITOS ESTÃO ME DIZENDO PARA NÃO ABRIR!

Todos começaram a rir

– Agora que achamos o objeto? Manda seus espíritos ficarem quietos! Abra isso logo! – disse eu animado para ver o que era esse objeto.

A cientista abriu e por dentro havia uma outra caixa, mas essa não abria, ela era preta e tinha uma tela na frente, com um botão do lado.

– O que será que é isso? – Peguei a caixa e apertei o botão.

A tela começou a piscar e depois apareceu uma contagem regressiva dizendo:

“10 Segundos para explodir”

– É UMA BOMBA! – Grita um dos empregados

Eu soltei a bomba no chão e fiquei paralisado até tudo se acabar.


Para relembrar a historia é só clicar aqui > Parte I e Parte II


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Tinha que ser coisa do Natal

Augusto estava sentado na frente do espelho se encarando com o violão na mão:

– Vamos Augusto! Você consegue cantar para todo mundo ouvir!

O menino estava parado conversando consigo mesmo, tentando tomar coragem para participar do concurso de canto de Natal da sua cidade. Mas toda vez que ele pensava que teria várias pessoas olhando ele cantar, ele tremia e sua voz não saia mais:

– Por quê eu só consigo fazer isso sozinho? Eu não devo estar preparado! É melhor eu desistir!

Ele solta o violão e saí correndo para o quintal da sua casa triste e pensativo:

– Eu nunca vou ser bom o suficiente! É melhor ninguém nunca saber que sei tocar e cantar!

 Assim que ele terminou de dizer isso escutou alguém gargalhar, olhou para todos os lados e não encontrou ninguém, só havia um pequeno presente no chão. Em cima dele havia um bilhete dizendo:

“Só abra se confiar em si mesmo”

– Quem será que deixou isso aqui? O que isso quer dizer?

Ele escuta outra gargalhada e depois:

– Será que ele não sabe ler? Escrevi a frase mais simples possível!

O menino olha para o lado e se assusta, tinha um homenzinho bem pequeninho com seus bracinhos cruzados e carinha de bravo para ele:

-O QUE É VOCÊ?

– Ah não é possível! Quer saber! Já estou quase aposentando! Não vou ficar me apresentando, chega! Se não sabe o que eu sou! Problema seu!

– O QUE VOCÊ QUER DE MIM?

– Para de gritar moleque! Não tem ninguém gritando aqui! Então para você não ficar mais assustado, já vou direto para o assunto! Eu sou o seu ensinamento de Natal!

– Ensinamento de Natal! Como assim?

– Você não tem televisão em casa? É aquela palhaçada que tem todos os anos de acontecer alguma coisa no Natal para alguém se tornar uma pessoa melhor, ser confiante, amar a família e blá blá blá… A magia do Natal, essa coisa sou eu!

– Você parece mais um duende!

– Será porque né? É isso que eu sou! Agora moleque para de enrolar, pega seu violão e vamos já para aquele concurso cantar!

O duende faz o violão do Augusto aparecer bem perto dele:

– Eu não sei se consigo! Eu vou travar na frente de todo mundo! – disse Augusto com os olhos cheios de lágrimas.

– Calma! Não precisa chorar! Magia do Natal, esqueceu? O que está dentro desse presente vai te ajudar!

– Sério?

– Claro né! Você vai ser o melhor cantor daquele lugar! É só deixar ele perto de você que vai dar tudo certo! Agora vai lá cantar e me deixa em paz!

O menino saiu correndo feliz para o concurso, deixou o presente em um canto do palco e quando foi sua vez de cantar, ele se esqueceu de todo o seu nervosismo e fez uma apresentação linda. Depois que todos os candidatos se apresentaram, o juiz decidiu que Augusto tinha feito a melhor apresentação e saiu de lá com troféu de primeiro lugar.

Ele saiu muito confiante e se despediu do público, pegou o presente e achou um canto sossegado para abrir. Mas quando abriu, lá dentro só havia um pequeno bilhete dizendo:

“O ser humano gosta de ser enganado”

“P.S: Esse é o seu ensinamento de Natal!

Augusto começa a gargalhar e escuta de longe a voz do duende ainda mais bravo:

– EU NÃO ACREDITO QUE ATÉ QUANDO EU TENTO FAZER ALGUMA COISA ERRADO ESSA MAGIA DO NATAL ACONTECE.


Obrigada Leitores por acompanhar mais um ano desse meu mundo imaginável! Sou muito feliz por ter vocês aqui! Até o ano que vem com mais historias e ilustrações lindas para vocês! Feliz Natal e Feliz Ano Novo!


Ilustrador: Brendom Rodarte

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Metamorfose

Estava sentada na porta da escola esperando meus pais chegarem, mal conseguia parar em pé, parecia que eu havia comido alguma coisa que não fez bem e não conseguia parar de vomitar.

Vejo o carro dos meus pais se aproximar, minha mãe desceu do carro para me ajudar e ficou assustada quando me viu:

– O que aconteceu, minha filha? Você está ficando meio verde! Vamos direto para o hospital!

Entro no carro e meu pai também fica assustado:

– Que isso Filha? Sua pele está verde!

Tento ser irônica:

– Estou virando uma alface!

Quando eu disse isso eles não aguentaram e começaram a rir, tentei rir, mas meu estômago ficou enjoado novamente e vomitei dentro do carro. Meu pai acelerou em direção ao hospital e minha mãe ficava olhando para mim bastante assustada:

– Você está ainda mais verde filha!

Chegamos no hospital, os médicos me examinaram e não encontraram nada. Eu estava normal, mas ninguém entendia por que ainda sentia enjoo e fazia vômito. A minha pele estava ficando mais verde.

Os médicos resolveram me deixar internada em observação, eles ficaram com medo de me deixar ir para casa nesse estado e queriam tentar descobrir o que estava acontecendo. Fiquei internada em um quarto que deveria ser perto do refeitório do hospital, estava sentindo um cheiro muito gostoso:

– Nossa que cheiro bom! Vocês estão sentindo?

Meus pais estavam olhando para mim assustados novamente:

– Agora apareceu uma verruga no seu nariz! Você está começando a parecer com…

Antes que meu pai pudesse responder minha mãe interrompe:

– Não diga o nome dela!

– O nome de quem? – pergunto curiosa

Ao invés de responderem começaram a discutir:

– E se ela for igual? – disse meu pai

– Não pode ser! Vou perder minha filha! Ela não pode ser isso! – disse minha mãe aos prantos.

– E se for! Olha para ela? Está parecendo muito com…

– Não fale o nome! Não quero escutar esse nome!

Eu me levanto sem entender o que estava acontecendo e vou para o banheiro, olho no espelho e me assusto. Minha pele estava verde e havia uma verruga enorme (e cabeluda!!!) no meu nariz. Saio do banheiro chorando desesperada:

– O QUE ESTÁ ACONTECENDO COMIGO????

Começo a sentir aquele cheiro gostoso novamente, saio do quarto e começo a perseguir o cheiro sem parar, eu não conseguia me controlar, só queria sentir mais de perto esse cheiro. Vou andando pelos corredores e me deparo com uma enfermeira carregando um recém-nascido. O cheiro estava por toda parte, não conseguia entender o que estava acontecendo.

A enfermeira olha para mim preocupada e pergunta:

– Está tudo bem senhora? A cor da sua pele está estranha! Já chamou o médico?

– Senhora? – foi a única coisa que consegui responder, eu não conseguia parar de sentir o cheiro, queria chegar mais perto da criança, carregá-la, cheirá-la e …

– Comer? – pensei em voz alta.

A enfermeira olhou para mim confusa e disse:

– O que disse senhora?

Começo a chorar desesperadamente:

– O que está acontecendo comigo? Esse cheiro está vindo dessa criança? EU QUERO MUITO COMER ESSA CRIANÇA!

A enfermeira se assusta com as minhas palavras e sai correndo. Começo a correr atrás dela, jogo ela no chão e pego a criança que estava aos prantos, eu não conseguia mais me controlar, precisava muito dessa criança.

Sua pele era tão macia e cheirosa, quando estava pronta para morder aquele ser pequenininho no meu colo, senti um golpe muito forte na minha cabeça, fiquei tonta, minhas vistas escureceram. Só conseguia escutar bem de longe a voz dos meus pais:

– Ela não está bem! Vamos levar ela para outro hospital!

– Me desculpem! Já vamos tirá-la daqui!

Depois disso, senti eles me levando até o carro e apaguei.

Quando acordei e olhei para as janelas percebi que não estávamos mais no hospital. Acho que nem estávamos mais na cidade, o lugar era cercado por árvores. Vejo um espelho e tento me aproximar, minha aparência estava muito mais assustadora, minha pele estava verde como uma alface e estava enrugada (também como uma alface?), meu nariz havia crescido e a verruga estava E-N-O-R-M-E! Meus dentes pareciam podres, meus ombros estavam quase da altura da minha cabeça. Eu virei o corcunda de Notre-Dame feio?

Saí do carro, meus pais estavam em frente a um chalé todo preto e com eles havia uma senhora muito parecida comigo, ela se aproxima sorrindo e diz:

– Eu sabia que uma bruxa nova ia acabar aparecendo na família! Eu já estou velha demais! Alguém precisa ocupar o meu lugar!

Meus pais começaram a chorar e a velha respondeu:

– É o destino dela! Não tem o que fazer! Você sabia que isso poderia acontecer, filho! E claro que ela iria puxar a avó dela!

– Filho? – pergunto assustada – Você disse que minha avó tinha morrido!

Começo a chorar olhando para os meus pais:

– Perdoa eles minha netinha! Nós não conseguimos viver em sociedade! Precisamos comer! E acho que você já sabe muito bem o que, não é?

– Eu nunca pensei que minha filha seria um monstro como você Ma… Ma…tilda! – minha mãe realmente não gostava de dizer o nome da velha, depois de dizer isso, ela se vira e vai embora sem se despedir.

Meu pai me abraça e eu começo a vomitar novamente:

– Podem ir! Agora deixem que eu cuido dela!

Vejo os meus pais indo embora e me sento meio tonta na porta do chalé:

– O que será de mim agora?

A velha se aproxima e tira uma varinha das suas vestes, ela se transforma em uma mulher Jovem e muito bonita, parecia ser um pouco mais velha que eu. Ela sorri com meu espanto e responde:

– Vou ensinar tudo que eu sei para você! Mas para conquistar os seus poderes você precisa comer!

Ela pegou a varinha novamente e transformou o chalé, que era velho e feio, em uma pequena casa linda e coberta de doces.

– Agora é só se sentar e esperar! O nosso jantar virá até nós.

Entramos na casa. Não sei quanto tempo havia se passado, fui despertada por aquele cheiro irresistível novamente. Dessa vez o cheiro apresentava algumas notas diferentes da primeira vez, estava muito mais sutil, acho que só consegui perceber por que as crianças já estavam quase ao meu lado.

– Maria, isso está muito gostoso!

– Eu estava morrendo de fome, João!

Não conseguia me concentrar nas vozes, a única coisa que eu sentia era fome.


Ilustrador: Brendom Rodarte

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Desaparecidos em Cinasville: Parte II

Eu não conseguia ver os Trolls só senti os golpes e mordidas; Escutei tiros, gritos e, quando estava quase apagando, alguém me puxou para fora da ponte e me deitou em uma trilha no meio do mato:

– Fique quieto aqui!

Percebo que era um dos empregados, os outros também já estavam ali escondidos, assustados e machucados. Ainda um pouco desnorteado por causa dos golpes, dou sinal para o psiquiatra pegar o mapa e olhar aonde levava essa trilha para podermos fugir por ela:

– A trilha é segura! – disse o psiquiatra bem baixinho – No final dela existe uma cerca elétrica, se conseguirmos desativar ela, pulamos o cercado para o lado do casarão da Fazenda.

Me levanto na altura do mato, para que nenhum dos Trolls ache a gente, começo a andar pela trilha:

– Vamos equipe! Sem chamar atenção de ninguém!

Andamos por um tempo e parece que os Trolls não nos seguiram, chegamos na cerca elétrica e havia uma cabine, dentro dela um painel com vários botões:

– Meu Deus, que sorte! Eu vim o caminho todo pensando em como iríamos desativar essa cerca. – disse o psiquiatra.

Um dos empregados já estava dentro da cabine e disse:

– Aqui está dizendo para apertar um botão, eu já apertei!

Todo mundo fica paralisado esperando algo acontecer, penso: “Que idiota! Como aperta o botão sem saber o que ele faz”. E escuto o psiquiatra xingar:

– Se esse botão fizesse algum barulho nós já estaríamos mortos!

A garçonete joga um galho na cerca elétrica:

– Parece que ela está desativada! Não aconteceu nada!

O investigador paranormal começa a subir na cerca, começo a acompanhá-lo e os outros ao ver que estava tudo bem começaram a subir também. Quando todos estavam do outro lado, começamos a andar sorrateiramente em direção ao casarão da fazenda. Chegando pelos fundos vejo que na frente da casa haviam vários capangas trolls guardando a entrada principal:

– Se entrarmos todos juntos nunca vamos saber se eles descobriram que estamos aqui! Quatro de vocês vem comigo e o restante fica de guarda aqui do lado de fora!

Todos concordaram.

– Ei dona do bar! Vem você e seus empregados comigo, quero que você comigo também investigador paranormal! Para os que vão ficar, se acontecer qualquer coisa assobiem, vou saber que fomos descobertos! Se eu assobiar, sigam com o plano.

Escuto todos dizerem:

– Sim Chefe!

Começo a abrir as portas dos fundos bem devagar e a entrar calmamente. A casa estava toda escura, ligo a minha lanterna e percebo que estávamos passando pela cozinha. O investigador paranormal derruba uma frigideira, mas conseguiu pegá-la antes de bater no chão:

– Meu Deus gente! Poderiam fazer um pouquinho menos de barulho?

Quando termino de dizer isso me viro com a lanterna e dou de cara com Kozlov:

– QUEM SÃO VOCÊS? O QUE FAZEM NA MINHA CASA?

Fico parado com a arma apontada para ele:

– Viemos atrás do item que você roubou da igreja! – disse o investigador paranormal.

– Eu roubei? Como podem provar isso? Tenho onze Trolls à minha disposição, vocês nunca sairão daqui com vida!

– Tem certeza?

Vejo que ele está com um rádio na cintura, antes que ele pensasse em usar começo a assobiar. Escutamos barulhos de pedras caindo no chão, os Trolls haviam sido sendo pegos de surpresa pela equipe que ficou do lado de fora.

– Acho que deveria reforçar mais a segurança – disse um dos empregados.

Começos a rir e o encurralamos em um canto da cozinha a pontando armas para ele. O investigador paranormal continua:

– Tenho informações de que você está envolvido sim! E o sumiço do padre Vogel também é culpa sua!

– PADRE VOGEL ERA UM ENXERIDO! – Kozlov grita e tira uma faca escondida do seu bolso. Antes que pudesse reagir, ele corta a garganta da dona do bar, ela cai no chão sem vida.

Dou um tiro na sua perna e ele cai no chão. Me debruço sobre ele apontando a arma na sua cabeça:

– Se quiser viver, responda logo! Onde está o objeto roubado?

– Está no labirinto do meu jardim! Em um cofre!

– Onde está a chave?

– Assim fica fácil demais! – ele começa a gargalhar

Um dos empregados abalados com a morte da chefe, pega a arma e atira na cabeça dele:

– Não gostei da risada dele!


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Desaparecidos em Cinasville: Parte I

– Prefeito! Prefeito! Por favor! Vocês têm notícias dos desparecidos?

O prefeito ignora a repórter e ela se volta para mim:

-Capitão Gensel! Meu nome é Jessica Klein, sou do Diário da Bavária, você já tem alguma notícia ou pista dos desaparecidos?

Respondo bem rápido antes de entrar na delegacia:

– Até o momento foram constatados seis desaparecimentos que não deixaram nenhum tipo de vestígio, nem marcas de arrombamento ou de luta. Estamos trabalhando duro para que todos estejam de volta em seus lares sãos e salvos!

Entro na delegacia rapidamente, já estava cansado de dar satisfações sobre o desaparecimento dessas pessoas. Chegando lá dentro um casal estava desesperado:

– Alguém me ajuda! Nossa filha está desaparecida! – disse o homem abraçado com uma mulher que estava aos prantos.

Agora são sete desaparecidos – pensei alto – e todos que estavam na delegacia olharam para mim. O prefeito se aproximou com um senhor bem baixo e gordo, dono de umas das melhores cervejarias de Cinasville. Eu pensei que o senhor estava preocupado com as pessoas até ele abrir a boca e dizer:

– E o festival, Capitão Gansel? Corre algum risco de ser cancelado? Estou muito preocupado em não faturar as minhas cervejas esse ano!

Reviro os olhos revoltado, não é possível que esse homem esteja preocupado com isso. O prefeito responde:

– Há coisas mais importantes que faturamento Sr. Harten, não acha? Não estou dizendo que o festival Bomer Spiel não é importante! Este evento movimenta o nosso turismo trazendo benefícios para todos! Por isso vamos fazer de tudo para que isso se resolva antes do evento não é capitão?

Antes que eu pudesse responder ele me interrompe e continua falando:

– Foi isso que eu vim tratar com você capitão! Resolvi dar uma recompensa para a melhor equipe de pessoas, não precisam ser policiais, que conseguirem desvendar esse mistério! Já temos várias pessoas na sala ao lado esperando para se inscrever!

– Como assim prefeito? Ninguém me avisou de nada! – pergunto para ele assustado.

– Foi uma decisão rápida! – ele se vira para o Sr. Harten dizendo – É só isso que o Sr. tem para falar? Estou de saída, boa noite para vocês!

Ele se vira e vai embora. Vou em direção a sala morrendo de raiva: – Como assim ele arruma essa ideia de que qualquer pessoa pode resolver o caso e não me fala nada? E já temos pessoas para se inscrever? Ele deve estar achando que nós policiais não estamos dando conta!

Chego na sala e encontro nove pessoas prontas para se inscrever e nenhuma delas era um policial. Quando elas terminam de se inscrever, a única coisa que penso é que grupo esse meu Deus? Tinha um investigador paranormal, uma ex- cientista, um padre recém-chegado na cidade, um psiquiatra, uma garçonete, um motorista, a dona do melhor bar da cidade e seus dois empregados. Parece um filme que eu assisti esses dias, só faltou um tubarão lendo um livro.

Saio da sala indignado, como o prefeito deixa qualquer pessoa tomar conta de um caso tão importante quanto esse? Meus devaneios são interrompidos quando escuto alguém me chamando:

– Ei Capitão! Você tem um minuto? – Era o investigador paranormal.

– Sim! – Respondo tentando conter minha indignação.

– Eu tenho uma pista! Eu não sei se é necessariamente esse homem, mas um espírito me falou através de sonhos sobre um importante fazendeiro chamado Niko Kozlov aqui da cidade, conhece?

Todo mundo conhecia Niko Kozlov, ele era o fazendeiro mais rico da redondeza.

– Sim! Ele é praticamente o dono de quase todas as terras por aqui! O que tem ele?

– Os espíritos me contaram que com ajuda de pessoas importantes da igreja ele roubou algo muito valioso! Eu não sei o que é! Mas é algo muito importante! E uma das pessoas desaparecidas é o Padre Rene Vogal! O padre mais importante da cidade! Não acha isso suspeito?

– Sim! Isso é muito suspeito! – disse pensativo.

Não é que ele tinha razão! Isso era muito suspeito e ninguém confiava em Niko, ele era ambicioso e trapaceiro, foi assim que ele conseguiu subir na vida. Eu não podia perder essa oportunidade, é a primeira pista que tive em semanas do desaparecimento dessas pessoas:

– Eu quero que você junte o grupo e encontre comigo hoje à noite perto da fazenda do Sr. Niko Kozlov, entendeu? Vamos investigar para ver se achamos mais alguma coisa!

O investigador paranormal responde empolgado:

– Sim senhor! Estaremos lá!

Depois de um longo dia de trabalho, peguei meu carro e encontrei o grupo perto do portão da fazenda de Niko. Orientei que eles escondessem os carros e ficassem escondidos:

– Precisamos ser sorrateiros para que ninguém descubra que estamos lá!

O psiquiatra se aproxima me entregando um papel:

– Fiz um mapa da fazenda! Ela é muito grande! Vai ficar mais fácil para investigar!

Seguro o mapa na mão pensando como ele conseguiu fazer isso? Essa equipe está se saindo melhor do que eu esperava.

Esperamos os trabalhadores da fazenda irem embora e começamos a investigar, olhamos cada canto da fazenda e não achamos nada de suspeito, até que chegamos em uma ponte. No final da ponte havia uma casa velha sem nenhuma iluminação direito no local. Quando estávamos nos aproximando da casa, escutei uma criança chorar.

– Vocês estão escutando isso? Parece uma criança! – disse a garçonete

O choro de aproximava, peguei minha lanterna e iluminei o final da ponte. Havia uma criança muito esquisita, ela chorava muito, parecia ter uns dois metros e seu corpo era todo deformado. Escutei passos vindo atrás de nós e a ex-cientista gritou:

– SÃO TROLLS!

A luz da minha lanterna apagou e os Trolls começaram a atacar.


Ilustrador: Brendom Rodart

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Quem atendeu suas preces?

Pai Nosso que estais nos Céus, santificado seja o vosso Nome, venha a nós o vosso Reino,

seja feita a vossa vontade

assim na terra como no Céu.

O pão nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas

assim como nós perdoamos

a quem nos tem ofendido,

e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.

“Senhor por favor faça que aquela maldita vizinha quebre uma perna e me deixe em paz, não aguento ela mais aqui xeretando. Amém”.

Depois de rezar vou dormir cansada de mais um dia, estava bastante irritada com essa vizinha. Não aguentava mais ela todo dia na minha porta querendo saber da minha vida e fofocando sobre a vida dos outros. Minha avó sempre dizia que Deus escuta todas as nossas preces, espero que ele afaste essa mulher da minha casa.

Acordo cedo e vou saindo de casa para ir trabalhar e percebo que a vizinha não apareceu. Depois de um longo dia de serviço, quando cheguei em casa ela não apareceu também. A única coisa que pensei foi:

– Graças a Deus!

Rezei e fui tentar dormir, mas meu telefone começou a tocar. Atendo e infelizmente reconheço a voz imediatamente:

– Menina você não sabe o que aconteceu comigo! Eu simplesmente me levantei da cama, caí e quebrei a perna!

Fico do outro lado da linha pensando se isso aconteceu porque eu rezei e perguntei:

– Como você está?

A vizinha responde animada:

– Estou bem! Não se preocupe! Não vou poder ficar indo aí, mas ainda bem que existe telefone …

Ela começa a gargalhar e termina dizendo:

– Vou te ligar todos os dias! Boa Noite!

– ……. Boa Noite! – disse depois de respirar bem fundo.

Desligo o telefone irritada, achei que ia ficar livre e ela arrumou mais um motivo para ficar perto de mim. Rezei novamente pedindo a Deus para que ela não me ligasse, que ficasse muda ao invés de fazer isso, eu não me importava como, só queria ficar em paz.

Acordo no outro dia assustada com barulhos de carro de polícia e ambulância, saio de casa para ver o que estava acontecendo e estavam todos parados na porta da casa da vizinha, me aproximo e pergunto para o primeiro policial:

– O que está acontecendo?

– Dois ladrões entraram na casa, aproveitaram que a dona da casa estava com a perna quebrada, amarram ela e cortaram sua língua para ela não pedir socorro!

Fico assustada e pergunto novamente sem acreditar no que ele estava dizendo:

– Cortaram sua língua? Ela está muda?

– Cortaram feio, está sangrando muito e ela não consegue falar! Vocês eram próximas? Ela acabou de sair para o hospital!

– Não – respondo ainda não querendo ligação nenhuma com a vizinha.

Volto para casa depressa, pensando que a culpa era minha. Eu rezei para isso tudo acontecer, mas não sabia que realmente aconteceria. Com peso na consciência comecei a rezar pedindo para ela ficar bem, se o mal acontece, o bem deve acontecer também:

– Por favor Deus retira todo o mal que eu pedi! Eu só queria me livrar dela, não queria nada de mal, quero que ela fique bem!

Escutei um sussurro vindo de algum lugar da casa, interrompeu a minha reza dizendo:

– Agora é tarde!

Saio correndo pela casa procurando a voz:

– QUEM ESTÁ AÍ?

A voz começa a gargalhar muito alto.

– QUEM É VOCÊ?

– Ora, sou quem atendeu às suas preces.

– MAS, VOCÊ NÃO É DEUS, É?

– Não. Mas quem manda ficar pedindo essas coisas em voz alta? Alguma outra pessoa poderia escutar.

– E COMO VOCÊ CONSEGUE FAZER ISSO? QUEM É VOCÊ? A coisa voltou a gargalhar e única coisa que respondeu foi:

– Sabe aquele ditado, “Tudo que vai volta”?

 Quando a voz terminou de sussurrar isso, vejo que alguém tinha entrado na casa, eram dois ladrões. Subi as escadas correndo porque eles já tinham tomado conta do primeiro andar. Tentei ver do topo da escada se tinham saído e escorreguei, rolei escada abaixo. Quebrei a perna, não tinha mais nenhum movimento nela. Os ladrões estava me esperando lá embaixo com facas nas mãos. Um deles me puxou pelo cabelo enquanto o outro abriu a minha boca e cortou a minha língua. Senti uma dor insuportável e vejo a minha língua caindo no chão e desmaio.

Me deixaram para morrer, mas acordei um tempo depois. Não conseguia me movimentar e muito menos gritar, acho que passei alguns dias assim até que alguém lembrou de mim. A vizinha abriu a porta e gritou pelo meu nome, eu estava no chão, sem reação. Ela já estava bem e conseguindo falar, nunca pensei que ficaria feliz em ouvir essa voz irritante.


Ilustração: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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A tão sonhada tatuagem

– Olá! Seja bem-vindo ao PowerGirlTattoo! Você é o cliente das 14:00 horas?

Todo empolgado respondo:

– Sou sim!

– Parabéns por ter ganhado o sorteio! Já pode ir subindo, é na primeira sala depois que subir as escadas! A Bruna está esperando por você!

Agradeço a secretária e subo as escadas pensando. “Aí meu deus! Vou tatuar com a Bruna! A tatuadora mais famosa do país, ninguém consegue copiar seu estilo, ela é única!”. Entro na sala e lá estava uma mulher bem alta, com longos cabelos azuis, toda tatuada me esperando:

– Meu deus! É você mesmo! A Bruna! Nem acredito que estou aqui!

Ela começa a sorrir e diz:

– Sou eu! Fico feliz com essa empolgação toda! Está pronto para começar?

– Estou muito empolgado para começar! – já vou dizendo isso me deitando na maca.

– Então Flávio, o famoso ganhador do sorteio, onde será feita essa tatuagem?

– Será no peito! – Já tiro a camisa.

Ela começa a rir da minha empolgação novamente e me entrega uma folha com um desenho:

– Que tal? Você disse que queria tatuar uma índia quando ganhou o sorteio, espero que tenha gostado!

Eu fiquei encantado com o desenho, era o rosto de uma índia tão delicado, parecia de uma criança, até lembrava um pouco o rosto da própria tatuadora e seu cabelo tinha pequenas penas também bem delicadas.

– Eu amei! Suas tatuagens são fantásticas!

– Muito obrigada Flávio! Então, vamos começar!

Ela colocou três potinhos de tinta, achei estranho e perguntei:

-Por que está usando tinta vermelha? A tattoo não é toda preta?

– É pra dar vida, pode ser?

– Claro, a artista é você!

– Ela marcou o desenho no meu peito e começou a traçar, acho que umas 6 horas depois o desenho já estava quase todo pronto, só faltava terminar o rosto. Achei engraçado que essa era a primeira tatuagem que não senti dor alguma:

– Nossa Bruna, essa é a primeira tatuagem que não sinto dor!

Ela não respondeu, tinha parado de fazer a tatuagem e estava acendendo umas velas vermelhas em volta de mim. Depois ela pegou um livro velho que estava na mesa no canto do quarto e começou a dizer umas palavras estranhas em outra língua:

– O que está acontecendo?

Ela continua sem responder e volta a fazer a tatuagem novamente. Quando ela começou a fazer o rosto, senti uma dor muito grande, parecia que meu peito estava sendo rasgado, começou a sair muito sangue e a Bruna continuava dizendo palavras estranhas:

– O que está acontecendo? Para! Está doendo muito!

Ela continuava sem responder. Comecei a pedir por socorro:

– Socorro! Socorro! Para! Socorro!

Eu tentei levantar, mas a dor era demais, não conseguia me mexer. Quando ela terminou de tatuar o rosto eu apaguei. Acordo assustado, não entendia o que estava acontecendo. Estava tudo normal, a dor e o sangramento haviam passado, tento me levantar para ver a tatuagem no espelho, mas meu corpo não responde. Escuto uma voz de criança saindo da minha boca:

– Ma……mãe? Que saudades!

Sinto que estou me levantando. Meu corpo se movimenta na direção da Bruna e a abraça:

– Olá filha!A mamãe trouxe você de volta! Está vendo! Mais uma pessoa com seu rosto tatuado na pele!

A voz de Criança sai do meu corpo novamente:

– Será que dessa vez eu vou conseguir ficar para sempre? Estou me sentindo mais forte dessa vez, ele nem está me incomodando.

– Espero que sim! Mas se não der certo vamos ter que descartar mais um e tentar novamente!

Quando escuto isso, começo a gritar desesperadamente por socorro, mas nenhuma voz saiu.

Meu corpo já não era mais meu.


Ilustrador: Brendom Rodarte

Escritora: Nathália Santos

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Torta de limão: A melhor torta do mundo!

“Triture o biscoito de maisena em um liquidificador ou processador.

Junte a margarina e bata mais um pouco.

Despeje a massa em uma forma de fundo removível”

Dizia o programa de culinária matinal quando de repente chega a minha esposa:

 – Feliz Aniversário meu amor! Olha a surpresa!

Acordo com minha mulher me desejando parabéns com uma belíssima torta em uma bandeja:

– Obrigada meu Amor! Como você adivinhou? Estava passando uma receita disso agora na TV.

– Sabia que você ia gostar e para ficar ainda melhor é torta de limão! Sua preferida!

– Você é a melhor esposa do mundo!

Pego a torta e dou uma mordida. Parece que já comi essa torta em algum lugar, pergunto:

– Essa torta foi feita nessa padaria perto de casa?

Continuo comendo, estava muito gostosa, tinha muito tempo que não comia uma torta de limão tão boa, a última vez que comi uma assim, foi…

na minha infância!

– Essa torta é de uma loja nova que abriu no centro da cidade! Está fazendo o maior sucesso, vendem tortas de vários sabores e são todas deliciosas!

Termino de comer e continuo achando-a muito familiar, mas não conseguia me lembrar o porquê:

– Vamos passar nessa loja comigo antes de ir para o trabalho? Essa torta é realmente muito deliciosa! Quero mais!

– Mas você não vai se atrasar na delegacia? Você é sempre o primeiro policial a chegar lá!

– Mereço outra torta! E hoje é meu aniversário, não vão se importar.

Ela começou a sorrir e fomos para essa tal loja de tortas, chegando lá o cheiro do lugar confirmou a minha lembrança da infância:

– Nossa o cheiro desse lugar! Tem o cheiro da minha rua na infância!

– É mesmo? Que estranho!

Pedimos várias tortas de sabores diferentes para experimentar, mas a torta de limão sempre me fazia lembrar de alguma coisa na infância:

– Existia uma vizinha na minha rua que fazia umas tortas maravilhosas! A principal era de limão, era a melhor torta do mundo!

Vejo que minha mulher não escutou nada do que eu disse, ela estava prestando atenção ao noticiário na TV da loja:

– Você está sabendo disso? Já é a quinta pessoa que desaparece na cidade e até agora não acharam nenhum dos corpos.

Quando minha mulher disse isso estava terminando mais uma fatia da torta de limão e lembrei o porquê ela era familiar:

– É isso! Preciso achar a dona desse lugar!

Levanto depressa do lugar onde estávamos sentados, tiro a minha arma da cintura, minha mulher pergunta assustada:

– O que está acontecendo? Aonde você está indo?

– Eles estão aqui!

Saio andando depressa em direção a atendente que estava no balcão da loja e já chego apontando minha arma e mostrando meu distintivo de policial:

– ONDE ESTÁ A DONA DESSE ESTABELECIMENTO! AQUI É A POLÍCIA E ESTOU MANDANDO VOCÊ ME DIZER AGORA!

– Ela está no porão da loja! Não posso ir lá!  

Ela aponta uma porta lá no fundo da cozinha, vou em direção a porta e vejo que estava trancada, pego uma cadeira da loja e começo a quebrar a porta. Minha mulher estava desesperada:

– VOCÊ FICOU LOUCO! O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

Vejo que era uma porta diferente, parecia muito pesada e vedava completamente a abertura. Depois de muito esforço consigo arrombar a porta e desço as escadas correndo, chegando lá dou de cara com a minha vizinha, que fazia tortas maravilhosas e seu filho. Do lado deles haviam cinco corpos, eram as pessoas que estavam desaparecidas:

– SÃO VOCÊS! SABIA QUE ERAM VOCÊS! ERA IMPOSSÍVEL EU ESQUECER!

Comecei a gritar com eles, apontando a arma o tempo todo para que nem pensassem em fugir:

– VOCÊS ESTÃO PRESOS! EU SOU POLICIAL AGORA!

A vizinha me reconheceu:

– É você!!!! O pestinha que nos entregou! Eu fiz uma bela torta de limão para calar sua boca por ter visto sangue no meu carro e mesmo assim você abriu essa sua maldita boca! Tive que fugir com meu filho para não mofar na cadeia, acabando com o nosso negócio de vender órgãos.

Minha mulher já estava atrás de mim e eu não tinha percebido:

– É por isso que você reconhece a torta de limão!

A única coisa que consigo responder:

– Liga para a minha equipe! Avisa que encontrei os corpos e estou com os culpados encurralados. Preciso de reforço urgente!


Ilustrador: Brendom Rodarte

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