Deuses

Gimleson queria tomar as terras inglesas conquistadas pelo meu pai, traiu a própria família, matou o nosso pai. Cansei de escutar que somos vikings e bárbaros, mas nunca traímos a nossa família. Odin não permitiria isso, eu tenho certeza de que foi o pai de todos que enviou Freya em meus sonhos. Ela me alertou que isso iria acontecer, mas fui cética e não conseguia acreditar que a deusa Freya havia conversado comigo.

-Levanta-te minha filha e lute como um homem – me disse. Se lutares como um homem minha força surgirá em você.

Eu não acreditei.

Até que um dia acordei com meu pai morto, meu irmão tomando suas terras, casas e guerreiros. Tudo que meu pai havia conquistado foi tomado por um inimigo que era da sua própria família. Gimleson me usou como sua escrava por anos, e, quando se cansou, me trocou por terras. A sua história de crueldade havia se espalhado pela Inglaterra e um rico conde queria fazer uma aliança: uma pequena parte de suas terras por uma promessa de proteção. Meu irmão muito ganancioso, se encantou com a grandiosidade da oferta do conde e não hesitou em aceitar, me dando ainda como presente em agradecimento.

Acabei me tornando amante do conde sem ao menos me perguntarem se eu queria. Fiquei meses satisfazendo os desejos nojentos desse velho, aguentando “carinhos” que eu não desejava e muitas vezes agressões. Eu era apenas a escrava viking e sempre que o conde e sua família recebia visitas era obrigada a dormir com os cavalos, para ninguém saber da sua ligação com nosso povo. Em uma dessas noites Freya falou comigo novamente:

– Levanta-te minha filha e lute como um homem se lutares como um homem minha força surgirá em você. 

Acordei assustada, sai correndo do estábulo e dei de cara com o velho na porta, pronto para me pegar e obrigar a fazer seus desejos. Senti em mim uma força muito grande quando ele veio me segurar, consegui agarra-lo e o jogar no chão, tomei sua faca e o ameacei:

– EU QUERO UMA ARMADURA E GUERREIROS OU MATAREI VOCÊ AGORA E VOU ATRÁS DA SUA FAMÍLIA!

Ele assentiu e o soltei, foi só aí eu entendi e senti o chamado de Freya. Surgiu em mim uma fúria e sede de vingança pelo meu pai, quando dei por mim o velho já estava com tudo pronto.

Caminhamos em direção ao meu irmão, invadimos suas terras, matamos seus guerreiros e o desafiei para um duelo. Ele era muito mais forte, habilidoso e experiente do que eu, seria muito difícil o matar. Já estava sangrando, sem forças, muito machucada para mexer algum músculo do meu corpo mas precisava estar ali, queria lutar e vingar o meu pai, queria ir para guerra como um homem, não queria mais ser uma mulher comum e estava provando isso.

Com esse pensamento agarrei as poucas forças que eu tinha e voltei para o duelo mesmo sentindo que estava quase morta, o último golpe me deixou caída no chão e meus olhos se fecharam.

Quando abri, eu estava no meu corpo mas não o comandava mais, saía outra voz de dentro de mim amaldiçoando Gimleson em nome de Odin. Percebi que era Freya, ela tomou posse do meu corpo e com toda sua fúria partiu meu irmão ao meio. De repente estava virada para os sobreviventes e disse:

– TOMARES TERRA DE INIMIGOS, NÃO DE SEUS IRMÃOS!

Não era a minha voz, nem a de Freya, neste momento éramos uma só.

Apaguei novamente.

Quando acordei, estava novamente no controle do meu corpo. Ao meu redor gritos e celebração, todos me chamavam de Guyda, a Filha de Freya, a primeira rainha Viking.

Nathália Santos

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